Memórias de um Sargento de Milícias


Enredo

Leonardo, o futuro sargento de milícias, filho de Leonardo-Pataca e de Maria-da-Hortaliça, é o resultado das pisadelas, beliscões e outros atos similares praticados pelo casal de imigrantes portugueses durante a travessia do Atlântico rumo ao Rio de Janeiro.
Maria-da-Hortaliça sente enjoos logo ao desembarcar e sete meses depois nasce um robusto menino, batizado com o nome do pai. A parteira - a comadre - e o barbeiro - 'de defronte' foram os padrinhos do herói, que passa junto aos pais os primeiros anos da infância. Leonardo-Pataca, que se tornara meirinho, confirma certo dia as suspeitas de que sua mulher não mantinha a mesma fidelidade que durante a viagem.
Em consequência, briga com ela, expulsa de casa o garoto com um enérgico pontapé e sai em busca de consolo. Ao retornar à tarde, em companhia do compadre e padrinho do menino, é informado de que Maria-da-Hortaliça, saudosa da pátria, tinha fugido e embarcado novamente, rumo a Portugal, a convite do capitão de um navio que partira pouco antes. Logo a seguir, Leonardo-Pataca vai viver com uma cigana, que, por sua vez, também o abandona.
Enquanto isso, Leonardo, o filho, adotado pelo padrinho, que muito se afeiçoara a ele, vai crescendo e a cada dia se revela mais briguento e travesso, prenunciando futuros envolvimentos com o famoso major Vidigal, que era o terror de todos os malandros e baderneiros da época.
O padrinho, com infinita paciência, tenta encaminhar o menino na prática da religião para qual este não revela grandes pendores. Coloca-o na escola e o ensina a ajudar a missa. Se na escola se revela um péssimo aluno e colega, na Igreja da Sé, onde consegue ser sacristão, vê a melhor oportunidade para grandes travessuras, como o experimenta o mestre-de-cerimônias. Este, um padre de meia idade, virtuoso por fora, mas bastante diferente por dentro, envolve-se com uma cigana, a mesma, aliás, com quem Leonardo-Pataca vivera depois da fuga de Maria-da-Hortaliça. O sacristão se vinga das reprimendas que sofre por suas constantes travessuras levando os fiéis a tomarem conhecimento dos fatos, o que faz com que seja expulso e deixe a igreja da Sé.
Para desgosto do padrinho e da madrinha, que queriam encaminhá-lo em uma profissão, Leonardo não demonstra qualquer interesse. Prefere a vida livre da vadiagem e das brincadeiras. Certo dia, em casa de Dona Maria, uma mulher das vizinhanças, conhece a sobrinha desta, Luisinha, sua futura mulher. Até que o casamento se realizasse, porém, muita coisa, iria acontecer. Leonardo-Pataca, depois de vencer o mestre-de-cerimônias na disputa pela cigana, é abandonado novamente por esta e passa a viver com a filha da parteira, Chiquinha. Daí nasce uma filha e grandes confusões, pois Chiquinha e Leonardo se detestavam e a parteira é chamada continuamente para serenar os ânimos. Por esta época aparece em cena José Manuel, um rival do futuro sargento de milícias em seu amor por Luisinha. Apesar dos esforços da comadre para afastá-lo do caminho, ela não tem sucesso. Além disso, a morte do padrinho e as contínuas brigas com Chiquinha fazem com que Leonardo saia de casa e passe a vagabundear pelos subúrbios da cidade, quando conhece Vidinha, uma mulata sensual, de olhos pretos e lábios úmidos, pela qual se apaixona imediatamente.
Capa do Livro Memórias de um Sargento de MilíciasComo Vidinha tinha outros pretendentes, cria-se grande confusão, o onipresente major Vidigal intervém e Leonardo consegue fugir, deixando-o furioso. Mas a vida continua e, com proteção da comadre, o Leonardo entra para as hostes do major Vidigal, não revelando, naturalmente, grande amor por esta nova profissão e passando boa parte de seu tempo na prisão por indisciplina. Sempre com a proteção da comadre, que recorre à ajuda de Maria Regalada, um antigo amor de Vigida, Leonardo supera todas as adversidades, chegando ao posto de sargento de milícias.
Assim, o final feliz se aproximava. José Manuel, o rival de Leonardo no amor por Luisinha, revela-se péssimo marido e, além do mais, morre providencialmente, deixando-a viúva e livre para casar com o sargento de milícias. Passando o tempo indispensável do luto, Leonardo, em uniforme da tropa, recebe Luisinha como mulher, na mesma igreja da Sé que fora palco de suas grandes travessuras como sacristão.

Personagens principais

Leonardo

De menino traquinas, sempre pronto para fazer travessuras e vingar-se de quem não o suportava, passa a sargento de milícias, posto de grande responsabilidade, o que caracteriza a trajetória desordenada e contraditória de um personagem que não controla o meio em que se envolve e vai, pelo contrário, deixando-se levar por ele. Leonardo é, indiscutivelmente, a figura central do enredo, apesar de muitas vezes ser ofuscado pela ação de outros personagens.

Leonardo-Pataca

Tendo conseguido chegar a meirinho, o que lhe garante uma vida de ócio, Leonardo-Pataca é apresentado como o infeliz que é perseguido sempre pela má sorte na vida pessoal, má sorte que, na verdade, é resultado da pouca inteligência e do excesso de sentimentalismo amoroso. Mas a velhice o acalma e, afinal, encontra a paz ao lado de Chiquinha.

A comadre

Como parteira, a comadre faz uso da influência e das informações que obtém no exercício de sua profissão para organizar o mundo segundo interesses. Nem sempre é bem-sucedida, mas a sorte a favorece e consegue ver o afilhado bem casado e na posição de sargento de milícias.

O compadre

De bom coração, apesar do famoso arranjei-me, o compadre, o compadre afeiçoa-se a Leonardo, no qual parece identificar-se, pois também fora um menino abandonado que tivera que enfrentar a vida sozinho. Não vive o suficiente para ver o final feliz do afilhado.

Vidigal

O terror dos malandros e vagabundos, 'o rei absoluto, o árbitro supremo' e o distribuidor dos castigos em uma sociedade em que a polícia ainda não estava organizada, o major é visto de forma simpática, principalmente porque termina sendo uma peça fundamental para que o destino de Leonardo, o herói central, se encerre de forma favorável.

Vidinha

A 'mulatinha de 18 a 20 anos...de lábios grossos e úmidos' é o primeiro personagem da ficção brasileira que aparece o estereótipo da mulata sensual que enlouquece os homens com sua vida e sem compromissos.

Estrutura narrativa

Memórias de um sargento de milícias, a história do filho 'da pisadela e de um beliscão', é narrado em 48 capítulos por um narrador onisciente que orienta a leitura ao longo de toda a obra apontando e comentado as intrigas, os sucessos e os fracassos dos personagens. Se a estrutura narrativa é frágil e pouco organizada, dados os constantes saltos no tempo e no espaço, os comentários do narrador, ora humorísticos, ora irônicos, lhe dão inegável unidade, em que pesem alguns lapsos, como é o caso do personagem Chiquinha, apresentada às vezes como sobrinha e às vezes como filha da comadre.
Toda a ação do romance se desenvolve no Rio de Janeiro, 'no tempo do rei', isto é, entre 1808 e 1821.

Comentário crítico

Esquecido durante muito tempo, reavaliado positivamente a partir de 1920, Memórias de um sargento de milícias sempre constituiu um problema para a visão tradicional da crítica literária brasileira, que, quase sempre mais preocupada, em rotular e catalogar as obras a partir das concepções idealistas próprias da periodização por estilos [romantismo, realismo, etc.] sentia-se pouco à vontade diante da irreverência e da desordem próprias de Manuel Antônio de Almeida. Irreverência e desordem que fizeram e fazem de Memórias de um sargento de milícias um dos romances mais lindos de toda a ficção brasileira.
Como tantos outros romances de sua época, a obra de Manuel Antônio de Almeida foi publicada originalmente em folhetins de jornal. Cada um de seus capítulos, à semelhança das modernas telenovelas, devia provocar no leitor a curiosidade sobre o desenrolar subsequente da história.
Mas as semelhanças entre o autor e os romancistas brasileiros seus contemporâneos terminam aí. Ao contrário destes, que construíram mundo ideais, impregnados dos valores da classe dominante brasileira da época, o autor centra sua atenção sobre um grupo social específico que poderia ser identificado, forçando um pouco a expressão, como a classe média do Rio de Janeiro de então.
Eram os homens livres, que, não sendo escravos mas também não dispondo de poder econômico e político, viviam, ou sobreviviam, de acordo com suas possibilidades, numa espécie de zona de penumbra na qual os limites entre os valores da ordem vigente e da marginalização completa se tornavam bastante tênues.
Por retratar com certa objetividade os costumes e hábitos deste grupo social, o romance de Manoel Antônio de Almeida foi qualificado, ainda no século passado de realismo. Mais tarde, por volta de 1920, ao ser reavaliado, o Memórias de um sargento de milícias foi considerado um romance picaresco a partir do argumento de que possuía as características das obras de ficção europeia dos séculos XVI e XVII assim denominadas: ausência de critérios morais rígidos, um herói central de origem social pobre, uma visão de mundo ingênua e ao mesmo tempo satírica, etc.
Mas a definição não vingou, principalmente porque há uma diferença fundamental entre Leonardo e os heróis do chamado romance picaresco europeu: sua vida se limita ao espaço dos homens livres do século XIX, sem transitar através de vários grupos sociais. Além disto, ciente da ineficiência dos rótulos e catalogações da crítica tradicional, a concepção que predomina hoje na análise da obra de Manoel Antônio de Almeida é a que, a partir de uma perspectiva histórica, vê em Leonardo o primeiro grande 'malandro' da ficção brasileira.
De fato, 'no tempo do rei' a ordem social definia-se a partir de dois polos extremamente rígidos: o escravo e o senhor-de-escravos. No meio, os homens livres sem poder econômico e político representavam um grupo restrito mas, certamente, de alguma importância em termos sociais. Sua ação era definida fundamentalmente a partir da necessidade de sobreviver através de expediente raramente ligado a uma atividade econômica específica. Caracterizavam-se antes por exercerem ocupações ocasionais, pequenos serviços e alguns cargos burocráticos subalternos: vendeiro, barbeiro, parteira, miliciano, sacristão.
Leonardo, típico representante deste setor, tem como alternativa desempenhar um destes papéis. Não chega, a rigor, a optar por um ou por outro. Vê-se, antes, obrigado pelas circunstâncias, a aceitar ora esta, ora aquela ocupação. Já de início, o compadre e a comadre, seus tutores, desejam para ele uma carreira de mais destaque: advogado, padre ou algo semelhante. Leonardo desaponta-os. Pensa em casar com Luisinha, moça de certas posses. Ela, porém, escolhe alguém de nível social superior. Por fim, o 'malandro' Leonardo vê-se obrigado a entrar para o serviço militar. Não se adapta à nova carreira mas, depois de muita confusão, Vidigal, o terrível major, símbolo da ordem constituída, incumbe-se de salvar-lhe a pele e coloca-o no confortável posto de sargento de milícias. Isto não seria estranhável não fosse o fato de que a artífice de tudo é Maria Regalada, a mulher que já fora de 'vida fácil', ou seja, uma típica representante da desordem social, uma marginal.
Assim é que, entre a ordem constituída [representada por Vidigal] e a desordem tolerada [Maria Regalada], quem sai beneficiado é Leonardo. E de tudo isto, de acordo com a visão de mundo ingênua e sem conflitos que impregna o romance, não resta qualquer sentimento de culpa, tanto que ao final, em paz, o herói casa, é reformado e desfruta de cinco heranças!
O salto, em termos de enredo, pode ser um tanto brusco, mas o fato é que Leonardo escolhe a ordem e suas vantagens. Afinal, não por nada resolve esquecer Vidinha e seus encantos, aos quais faltava o charme da fortuna e do reconhecimento social.
Neste sentido moderno, Memórias de um sargento de milícias poderia ser qualificado de realista, pois Manoel Antônio de Almeida deixou registrado, tanto no personagem central, como nos outros, a regra constitutiva dos valores do grupo social dos homens livres do Brasil do séc. XIX: para eles ordem e desordem pouco representavam. Sem trabalhar, o que era obrigação dos escravos, e sem estar no poder, como os senhores-de-escravos, Leonardo passeia pelo mundo não levando muito em conta as convenções sociais, a não ser quando funcionam em seu próprio benefício.
Em consequência, sob hipótese alguma é possível aproximar Memórias de um sargento de milícias dos romances e novelas que saíram da pena de Bernardo Guimarães, Alencar e Macedo, cujos mundos ideais e quase sempre rigidamente organizados em termos éticos, encarnam e reforçam a ordem vigente. A obra de Manoel Antônio de Almeida encontra similar apenas nas peças de Martins Pena, que, com uma visão crítica bem mais contundentes que a do criador de Leonardo, também produziu verdadeiros instantâneos do Brasil urbano de meados do séc. XIX.

Estilo de época

Apesar de estar classificado como romântico, o romance Memórias de um sargento de milícias apresenta traços estéticos que ultrapassam o Romantismo. Sua composição não segue a trilha deixada pelos demais ficcionistas desse estilo. A fragmentação do enredo deixa margens de dúvida se não seria um precursor do estilo digressivo e fragmentário de Machado de Assis. Suas personagens passam longe das idealizações românticas, então mais próximas do Realismo, não raro configurando tipos. A ausência de um final feliz definitivo é outro elemento fora dos parâmetros românticos. Dentro dos romances românticos, não se direciona especificamente para os romances urbanos, que focalizam a sociedade burguesa, pois caracteriza a sociedade suburbana, a gente humilde e trabalhadora.
Sem dúvida, a situação é controversa. Devemos enxergar a presente obra como um romance de costumes, que apresenta também tendência à novela picaresca, pela presença do anti-herói Leonardinho.
Cabe ressaltar que alguns críticos enxergam na obra uma percursora do Realismo no Brasil. Há, sem dúvida, elementos realistas, mas ainda predominam componentes românticos, já que não mostra nítida intenção realista. Os elementos considerados realistas presentes nessa obra filiam-se à narrativa picaresca espanhola, que tem por preocupação retratar naturalmente os costumes populares sem idealizá-los.

Estilo individual

Como vimos, a presente obra foge das características gerais do Romantismo, apresentando características próprias. O estilo da obra, bem como de seu autor, apresenta tendências bem pessoais e marcantes. Destaquemos algumas dessas tendências:
a) Emprego de linguagem bem coloquial, marcada por incorreções e linguajar lusitano, interiorano ou das periferias de Lisboa, lembrando que boa parte das personagens são imigrantes portugueses ou gente simples do povo.
b) Ausência de personagens idealizadas e de análise psicológica: o romance prefere focalizar os costumes, hábitos e cacoetes das pessoas de camadas sociais inferiores, numa construção mais realista da sociedade suburbana do início do século XIX.

c) Presença do humorismo, do ridículo e do burlesco: o tom geral da obra segue a tendência da gozação, marcado que está pela construção de personagens que tendem para o caricatural, para o mais absoluto ridículo. A essa tendência chamamos carnavalização.

d) Presença da ironia.

e) Presença da linguagem: A obra volta-se para si mesma, comentando os procedimentos que estão sendo empregados: palavras utilizadas, explicações sobre capítulos ou personagens que desaparecem de cena.

f) Presença de digressões: a narrativa não segue a ordem linear dos fatos, é episódica e, não raro, foge da história para comentar fatos paralelos ou para dar explicações sobre o próprio livro.

g) Presença do narrador intruso, que o tempo todo se intromete para dar explicações, analisar fatos ou personagens e conversar com o leitor.

h) Presença do leitor incluso, com quem o narrador procura estabelecer conversação: 'Pôr estas palavras vê-se que ele suspeitaria alguma coisa; e saiba o leitor que suspeitara a verdade'.
A obra deixa transparecer a presença de diversas figuras de linguagem, bem como, hipérboles, comparações, metáforas, perífrases, trocadilhos, metonímias, linguagens forenses, sarcasmos, barbarismos, etc...

Problemática e principais temas

Mesmo com o risco de nos tornarmos repetitivos, retomamos a problemática central da presente obra. Afinal, temos ou não uma obra que foge uma rígida classificação? Sem dúvida a resposta a esta questão é evidente uma vez que a obra apresenta elementos que escapam à típica caracterização dos moldes em voga no Romantismo, mas não atende de forma direta às perspectivas do Realismo, que sequer havia começado na Europa. É um romance que apresenta variáveis, tais como: novela picaresca, romance de costumes e romance de aventuras, sendo considerado por alguns um romance antirromântico, o que implicaria em tendências precursoras do Realismo, que só se confirmaria a partir das Memórias Póstumas de Brás Cubas [1881], de Machado de Assis. A presença da realidade objetiva é inquestionável, mas apenas isto não configura o Realismo na linha flaubertiana.
A obra é fundamentalmente humorística, estabelecendo contatos com gênero picaresco espanhol através do protagonista, que traz em si toda esperteza e picardia de um anti-herói, Leonardinho foi o antecessor em linhagem direta de Macunaíma, de Mário de Andrade e o continuador, no Brasil, de Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes.
Retrato vivo dos costumes bem brasileiros do início do séc. XIX, romance focaliza um sem número de tipos populares do RJ suburbano. Esse painel pitoresco retrata a alegria de viver, a malícia da época, as fofocas, as beatices, as crendices, as festas, as profissões, os costumes e hábitos de nosso povo. Leonardinho é o típico malandro carioca, cheio de picardia, esperteza, sarcasmo e desejo de vingança.
Podemos destacar entre as temáticas fundamentais as críticas ao autoritarismo policial, à religião, ao clero imoral, ao interesse econômico, ao casamento como meio de ascensão social e à vadiagem como meio de vida. Há, ainda, uma espécie de paródia do próprio Romantismo, montado nessa obra às avessas, abandonando os adocicados finais felizes para deixar nas entrelinhas uma sucessão de fatos tristes que poderiam vir a acontecer.

Auto da Barca do Inferno



Gil Vicente

Márcia Lígia Guidin*
Especial para a Página 3 Pedagogia & Comunicação
Reprodução
Inferno, detalhe de quadro português anônimo de 1520
Inferno, detalhe de quadro português anônimo de 1520
Antes de mais nada, "auto" é uma designação genérica para peça, pequena representação teatral. Originário na Idade Média, tinha de início caráter religioso; depois tornou-se popular, para distração do povo. Foi Gil Vicente (1465-c. 1537) que introduziu esse tipo de teatro em Portugal.

O "Auto da Barca do Inferno" (c. 1517) representa o juízo final católico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: uma com destino ao inferno, comandada pelo diabo, e a outra, com destino ao paraíso, comandada por um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos, que são as almas que seguirão ao paraíso ou ao inferno.

Chegam os mortos
Os mortos começam a chegar. Um fidalgo é o primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo ordena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a deixá-lo rever sua amada, pois esta "sente muito" sua falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela o estava enganando.

Um agiota chega a seguir. Ele também é condenado ao inferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a ir para o céu, mas não consegue. Também pede ao diabo que o deixe voltar para pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba na barca do inferno.

O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo, ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua humildade, permite-lhe entrar na barca do céu.

O frade e a alcoviteira
A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida enganou muitas pessoas, e tenta enganar também o diabo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena como alguém que roubou do povo.

O frade é o quinto a chegar... com sua amante. Chega cantarolando. Sente-se ofendido quando o diabo o convida a entrar na barca do inferno, pois, sendo representante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, condenado ao inferno por falso moralismo religioso.

Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são "seiscentos virgos postiços". Virgo é hímen, representa a virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu muitas meninas virgens, e "postiço" nos faz acreditar que enganara seiscentos homens, dizendo que tais meninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada por prostituição e feitiçaria.

De judeus e "cristãos novos"
A seguir, é a vez do judeu, que chega acompanhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo, pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a procurar outra barca. O judeu fala então com o anjo, porém não consegue aproximar-se dele: é impedido, acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua barca, e, sim, rebocados.

Tal trecho faz-nos pensar em preconceito antissemita do autor, porém, para entendermos por que Gil Vicente deu tal tratamento a esse personagem, precisamos contextualizar a época em que o auto foi escrito. Durante o reinado de dom Manuel, de 1495-1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os que ficaram, tiveram que se converter ao cristianismo, sendo perseguidos e chamados de "cristãos novos". Ou seja, Gil Vicente segue, nesta obra, o espírito da época.

Representantes do judiciário
O corregedor e o procurador, representantes do judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos. Quando convidados pelo diabo para embarcarem, começam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo. Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são condenados à barca do inferno por manipularem a justiça em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina - o que nos faz crer em trocas de serviços entre eles e ela...

O próximo a chegar é o enforcado, que acredita ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e enforcado. Mas também é condenado a ir ao inferno por corrupção.

Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente.

O bem e o mal
Como você percebeu, todos os personagens que têm como destino o inferno possuem algumas características comuns, chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando seu apego à vida; por isso, tentam voltar. E os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. Você pode perceber que o mundo aqui ironizado pelo autor é maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado.

O "Auto da Barca do Inferno" faz parte de uma trilogia (Autos da Barca "da Glória", "do Inferno" e "do Purgatório"). Escrito em versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens é coloquial - e é através das falas que podemos classificar a condição social de cada um dos personagens.

Valores de duas épocas
Escrita na passagem da Idade Média para a Idade Moderna, a obra oscila entre os valores morais de duas épocas: ao mesmo tempo que há uma severa crítica à sociedade, típica da Idade Moderna, a obra também está religiosamente voltada para a figura de Deus, o que é uma característica medieval.

A sátira social é implacável e coloca em prática um lema, que é "rindo, corrigem-se os defeitos da sociedade". A obra tem, portanto, valor educativo muito forte. A sátira vicentina serve para nos mostrar, tocando nas feridas sociais de seu tempo, que havia um mundo melhor, em que todos eram melhores. Mas é um mundo perdido, infelizmente. Ou seja, a mensagem final, por trás dos risos, é um tanto pessimista.
*Márcia Lígia Guidin é professora universitária de literatura, autora de "Armário de Vidro - Velhice em Machado de Assis", e dirige a Miró Editorial.

Nutrição de coelhos



Professor Me. Lourival Júnior
Autores: Alinne D. Sippell Souza
Diego Cordeiro de Paula Marribe Síria Cardena
A maioria das pesquisas realizadas em nutrição de coelhos foi realizada sob condições de clima temperado e têm permitido definir recomendações para serem utilizadas na formulação de dietas para a produção desses animais. As necessidades energéticas ou protéicas divulgadas foram principalmente estabelecidas para condições européias e estão relacionadas com a produção intensiva de carne de coelho.
O comportamento desses animais criados em sistemas intensivos é muito diferente daqueles submetidos a condições extensivas. Sob condições intensivas de crescimento, os coelhos se alimentam exclusivamente de grãos de alta qualidade e de alfafa.
Existem estudos recentes que comprovam a eficácia de dietas simplificadas a base de forragens de alta qualidade protéica na produção de coelhos. Também é possível o uso do alimento em pasta, embora seja, pelo ponto de vista prático e sanitário, mais complicado. Porém, também por razões práticas de administração do alimento e para poder formular dietas balanceadas otimizando a relação custo e oportunidade dos fabricantes industriais, combina-se grãos de oleaginosas, subprodutos de cereais e forragens fenadas se dando preferência a dietas granuladas ou peletizadas.
A ração na forma peletilizada é a mais recomendável, pois por ser um animal que não possuir os dentes caninos, são portadores de diastemas, possibilita uma melhor apreensão dos grânulos peletizados, se comparados com os da forma de farelo. Sem considerar que a ração na forma farelada ocasiona coriza no animal e o deixa nervoso, pois estes preferem partículas maiores, revirando o conteúdo do recipiente, acabando por jogá-lo fora dos comedouros.
O beneficiamento também favorece o aspecto sanitário, já que a alta temperatura do processamento destrói os microorganismos nocivos e gelatiniza o amido e a proteína, melhorando a digestibilidade da ração, e conseqüentemente, uma melhor conversão alimentar
Quando proporcionamos aos coelhos dietas peletizadas, os animais jovens e as coelhas reprodutoras são capazes de ajustar seu consumo de alimentos em função da concentração energética da dieta. Esta regulação, para chegar a um consumo constante de energia diária, só é possível quando a concentração de energia digestível (ED) esteja acima de 2.200 Kcal/ Kg na dieta o ideal é entre 2500 a 3200 Kcal/ Kg.
Segundo estudos a alimentação dos coelhos em criações caseiras, não apresenta os mesmos problemas que o arraçoamento nas criações comerciais. Nas criações caseiras, sua alimentação é feita à base de forragens, restos de horta, etc, neste caso a pouco consumo de água pelo coelho, pois a água é retirada das forragens; já nas criações comerciais, onde os animais recebem ração peletizada, deve ser adicionada fibra bruta, neste caso, é indispensável à disponibilidade de água de boa qualidade para a criação, pois a ração e fibras brutas têm baixa umidade, inviabilizando o negócio.
Os coelhos são animais de rápido crescimento e desenvolvimento precoce, que se manifestam devido à constituição química, do leite da coelha, que é muito rico em proteínas e sais minerais. Sua desmama requer uma ração de relação nutritiva estreita, que pode ampliar-se à medida que o animal vai se aproximando da idade adulta.
A capacidade de digestão da fibra é, notadamente, inferior aos ruminantes e aos herbívoros com fermentação pós-gástrica, como o equino. Tais diferenças devem-se ao rápido trânsito da ingesta, assim como ao mecanismo que impede a entrada no ceco, de partículas fibrosas maiores. De qualquer modo, a fibra é importante para a manutenção do trânsito digestivo normal, bem como para a formação das fezes duras.
Devem ser ressaltados, portanto, os limites mínimos e máximos da fibra na ração, levando-se em conta que a variação do conteúdo de fibra implica em flutuações nos valores de proteína e energia. Indica-se um mínimo de 13 % de fibra bruta ou 17,5
% de fibra detergente ácido, ou um máximo de 17,5 % de fibra bruta ou 23 % de fibra detergente ácido, sobre a matéria natural, seriam recomendados. Também é importante observar os requisitos com relação á idade ou processos fisiológicos como a gestação e lactação.
As recomendações são: Para engorda: 14% de fibra bruta e 1% de fibra indigestível Lactação: 12% de fibra bruta e 10 % de fibra indigestível.
Outro estudo indica uma dieta equilibrada com: Fibras: > 18%; Proteínas: 12 -
O coelho requer um aporte vitamínico um tanto pequeno, porém bastante essenciais tanto as lipossolúveis como as hidrossolúveis. Em relação a minerais, são nutrientes com múltiplas funções também nos coelhos, pois fazem parte como componentes estruturais do corpo, das proteínas, dos hormônios, dos aminoácidos e de algumas vitaminas do complexo B. Lembrando sempre, que estes têm função ativadora de enzimas e mantém o equilíbrio ácido-básico no sangue e nos fluídos corporais.
Dentre os minerais podemos destacar o cálcio, o fósforo, sódio, cloro, potássio, magnésio, ferro, cobre, iodo, zinco.
Para a sobrevivência dos coelhos, a água é o fundamental elemento da estrutura corporal do animal, vindo a representar 70% de seu peso corporal, já que desempenha funções importantes no metabolismo, como a regulação térmica, na pressão osmótica sanguínea entre outras. Dados mostram que se um coelho perder em torno de 10% de água pode vir a morrer.
Como os coelhos são animais herbívoros e, por isso, se alimentam de vegetais como as forrageiras, (gramíneas e leguminosas) que podem ser: rami, soja perene, alfafa, e outros vegetais como, folhas de goiabeira, amoreira e bananeira. Além desses alimentos verdes, devemos fornecer-lhes também uma ração balanceada, comendo o verde e a ração de maneira equilibrada.
(cecotrofagia)
Eles possuem um ceco bem desenvolvido que desempenha função importante para o aproveitamento alimentar. No ceco ocorre a proliferação bacteriana (semelhante ao que ocorre no rúmem), e no período noturno o coelho se alimenta deste produto
A energia contida no corpo dos animais é importante para as funções biológicas como o crescimento, reprodução, lactação.
A ração deve ser oferecida preferencialmente uma vez ao dia, mas pode ser dada em duas vezes, deve dar-se a quantidade de ração correspondente a 2 ou 3% do peso do animal.
A maior parte dos coelhos come e mostram-se ativos do anoitecer ao amanhecer, e passa o dia descansando e dormindo.
A ração peletizada deve ser controlada à base de 50g. por dia/animal. A coelha deve receber forragem à vontade além de 80g/dia de ração quando se encontrar na faixa etária de 71 a 120 dias. Durante os 10 primeiros dias gestacionais o conteúdo de ração cai para 50g./dia, pois isto facilitará o diagnóstico de confirmação das prenhes.
Em fase de lactação a coelha deverá receber 250 g. de ração até o 20º dia, e, a partir daí 450g/dia, já neste período os filhotes partilham também da ração junto ao leite materno, pois nos primeiro 20 dias os filhotes se alimentam exclusivamente de leite.
No período compreendido do 20º ao 30º dia é a fase em que os filhotes somam a ingesta de leite e ração, com isso, passam a desenvolver os sistema intestinal enzimático/microbiano, favorecendo na redução do estresse dos mesmos no desmame.
O habito alimentar do coelho se caracteriza por pequena ingestão de alimentos, e com grande freqüência, chegando a uma freqüência de 70 vezes ao longo do dia. A não ser em casos de enfermidade o estômago encontra-se sempre cheio devido à dificuldade de contração e de não poder forçar a passagem do alimento pelo piloro. A passagem ocorre sempre com a ingesta de nova quantidade de alimento pela pressão sobre o conteúdo gástrico já existente.
A respeito da sua ingesta de água é de 2,5 vezes a quantidade de matéria seca consumida, podendo variar segundo o estado fisiológico que o coelho se encontra, bem como a temperatura do ambiente e a temperatura da própria água.
Fêmeas em lactação exigem mais água, já que esta entra na composição do leite em maior quantidade, portanto a falta de água pode provocar a redução ou até cessar a produção. Em gestantes a falta de água poderá provocar abortamento.
A temperatura ideal da água para a ingesta deve ser entre 10ºC a 15ºC, é oportuno dizer que a água com menos de 5ºC e acima de 30ºC o coelho não ingere.
Comedouros
Devem ser de fácil limpeza, feitos de materiais resistentes à ferrugem; com bordas dobradas para dentro a evitar que se espalhem os alimentos; posicionados de forma a não contaminar os alimentos com os dejetos; de tamanho que não permita que o animal entre nele; deve ser prático, permitindo o manuseio do lado de fora da gaiola e se possível automatizado.
Bebedouros
Os mais comuns são os tipo vaso ou tipo "chupeta" (automático), pois impedem que os animais se banhem ou contaminem a água.
Os do tipo pote devem ser higienizados diariamente, no mínimo uma vez ao dia fazendo a limpeza interna com buchinhas e trocando a água.
Os problemas dentários são bastante comuns em coelhos, e embora não serem normalmente identificados pelos donos como tal, é um dos principais motivos de ida ao veterinário. O manejo correto destes animais e a identificação precoce destes problemas são indispensáveis para a sua prevenção e resolução.
Os coelhos pertencem à ordem dos Lagomorfos, que se distingue da ordem dos roedores devido a algumas características anatômicas, especificamente a presença de dois pares de incisivos superiores (os chinchilas ou os hamsters têm apenas um par). A arcada dentária dos coelhos é: 2x(I 2/1 C 0/0 P 3/2 M 3/3) = 28 dentes. Entre os incisivos e os pré-molares possui um espaço sem dentes, chamado diastema. Os dentes dos coelhos crescem durante ao longo de toda a vida.
Em um animal normal, os dentes estão perfeitamente alinhados, ficando os incisivos inferiores alojados entre os 2 pares de incisivos superiores, e os molares superiores e inferiores opõem-se, existindo uma superfície oclusional regular entre eles. Quando se desenvolve uma má coaptação dentária, que pode ser o resultado de trauma, problemas hereditários ou, mais freqüentemente, de uma alimentação inadequada, os dentes não se desgastam como devem, aparecendo então problemas relacionados com este sobrecrescimento.
Má oclusão dos molares é mais difícil de detectar, mas existem sinais que podem indicar um problema dentário: - Diminuição do apetite;
- Perda de peso;
- Salivação excessiva;
- corrimento ocular;
- Irregularidades ao nível da mandíbula (provocadas pelo sobrecrescimento das raízes dos molares) e abscessos;
- Alterações de crescimento ao nível dos incisivos (se existirem alterações a nível nos incisivos, existe uma boa probabilidade de existirem já alterações ao nível dos molares);
A ração comercial é bastante calórica. Assim sendo, os coelhos cuja base da alimentação é a ração podem acabar com obesidade e com problemas de saúde relacionados como a redução da libido e a fertilidade dos mesmos.
A fisiologia digestiva do coelho é adaptada ao consumo de rações com alto teor de fibra dietética, que é fermentada no ceco e no cólon. O baixo consumo de fibra resulta em distúrbios digestivos, como alterações na atividade fermentativa do ceco e trânsito lento que favorece a ocorrência de diarréias, sobretudo em coelhos jovens. Deste modo, um aporte mínimo de fibra dietética é imprescindível para garantir o bom funcionamento digestivo e para evitar o aparecimento de enterites freqüentemente mortais.
No entanto, o teor e a qualidade da fibra também afetam a boa produtividade dos animais.
Quando os coelhos são muito gulosos e o criador não controla a quantidade de ração que é distribuída diariamente, os animais podem apresentar indigestão e os sinais são de estômago endurecido e o ventre inchado.
O efeito no desempenho reprodutivo pode ser afetado pela limitação do fornecimento e consumo de água, com isso surge a grande probabilidade do abortamento bem como, propicia o canibalismo praticado pelas matrizes opôs o parto, onde podem vir a ingerir suas próprias crias.
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Cochonilhas, formigas e o fungo fumagina



cochonilhas esbranquiçadas
Um dos insetos mais prejudiciais às plantas ornamentais e frutíferas é a cochonilha. 
Tem diversas aparências e nomes.
Prendem-se às folhas superiores ou inferiores, a troncos e ramos, sugando a seiva elaborada rica em glicose.
Suas fezes são aproveitadas pelas formigas. 
Elas as levam para sua morada onde cultivam com ele um fungo do qual se alimentam. 

Também sobre esta seiva açucarada ocorre um fungo oportunista, conhecido como fuligem ou fumagina.
Muitos são os prejuízos para a planta: estético, diminuição de sua energia pela perda da seiva e porque com as folhas cobertas não há produção de fotossíntese.

Fumagina atacando folhas de gardenia
Para combatê-las utilize os venenos verdes que daremos a receita a seguir. 
Mas também é preciso livrar-se da formiga. 
Iscas ecologicamente corretas são comercializadas para este fim.
Para eliminar a fumagina, lave a planta com uma mistura de sabão daqueles de barra.
Dissolva o sabão em água quente, espere esfriar, e faça aspersão sobre as folhas. 
Lave depois com água limpa.



Pulgões

completando o vaso da samambaia azul com mais substrato
Outro dos insetos que prejudicam as plantas do jardim e também da horta. 
São pequenos, podendo se apresentar verdes, cinzas e amarelos.

Apreciam as partes tenras de botões florais e gemas de ponteiros, mas couves e algumas hortaliças são também seu prato favorito.
Os machos são alados e é difícil seu combate pela mobilidade da colônia.
Por outro lado qualquer tipo de defensivo verde liquida com eles.

 


Separação dos componentes de uma mistura


Como os materiais encontrados na natureza, na sua maioria, são constituídos de misturas de substâncias puras, para obtê-las, a partir das substâncias compostas é necessário separá-las por um método adequado.
Existem muitos processos para separação de misturas, mas o método a ser empregado depende das condições materiais para utilizá-lo e do tipo de mistura a ser separado.
Você já pensou em como separar algumas misturas que são encontradas no seu cotidiano?

Para isso é necessário, em primeiro lugar, observar se a mistura em questão é homogênea ou heterogênea, para em seguida escolher o processo mais adequado para separá-la.

Os processos mais utilizados para separação de misturas

1) Catação, Ventilação, Levigação, Peneiração, Separação Magnética e Flotação, usados na separação de misturas heterogêneas constituídas de dois componentes sólidos.

Catação: É um processo simples de separar sólidos numa mistura heterogênea. Os grãos ou fragmentos de um dos componentes são catados com as mãos ou com uma pinça.


Ventilação: A ventilação é usada para separa sólidos menos densos, passando-se pela mistura uma corrente de ar que arrasta o mais leve.

Levigação: passa-se pela mistura uma corrente de água e esta arrasta o mais leve.


Separação magnética: passa-se pela mistura um imã, se um dos componentes possuírem propriedades magnéticas, será atraído pelo imã.

Peneiração: usada quando os grãos que formam os componentes tem tamanhos diferentes.


Sifonação: É um processo usado para separar as fases da mistura heterogênea sólido/líquido e líquido/líquido.


Flotação: é um processo de separação onde estão envolvidos os três estados da matéria - sólido, líquido e gasoso. As partículas sólidas desejadas acumulam-se nas bolhas gasosas introduzidas no líquido. As bolhas têm densidade menor que a da fase líquida e migram para superfície arrastando as partículas seletivamente aderidas. O produto não desejável é retirado pela parte inferior do recipiente.

 Decantação: usado para separar os componentes de misturas heterogêneas, constituídas de um componente sólido e outro líquido ou de dois componentes líquidos, estes líquidos devem ser imiscíveis. Esse método consiste em deixar a mistura em repouso e o componente mais denso, sob a ação da força da gravidade, formará a fase inferior e o menos denso ocupará a fase superior.

          
              
Quando a mistura a ser separada é constituída de dois líquidos imiscíveis, pode se utilizar um funil de vidro, conhecido como Funil de Decantação ou Funil de Bromo. A decantação é usada nas estações de tratamento de água, para precipitar os componentes sólidos que estão misturados com a água.




Centrifugação: é usado para acelerar a decantação da fase mais densa de uma mistura heterogênea constituída de um componente sólido e outro líquido. Esse método consiste em submeter a mistura a um movimento de rotação intenso de tal forma que o componente mais denso se deposite no fundo do recipiente.

A manteiga é separada do leite por centrifugação. Como o leite é mais denso que a manteiga, formará a fase inferior.
Nos laboratórios de análise clínica o sangue, que é uma mistura heterogênea, é submetido a centrifugação para separação dos seus componentes.
A centrifugação é utilizada na máquina de lavar roupa, na separação da água e do tecido que constitui a roupa.

Filtração: é usada para separação de misturas heterogêneas, constituídas de um componente sólido e outro líquido ou de um componente sólido e outro gasoso. A mistura deve passar através de um filtro, que é constituído de um material poroso, e as partículas de maior diâmetro ficam retidas no filtro. Para um material poder ser utilizado como filtro seus poros devem ter um diâmetro muitíssimo pequeno.


A filtração é o processo de separação utilizado no aspirador de pó. O ar e a poeira são aspirados, passam pelo filtro, que é chamado saco de poeira, as partículas sólidas da poeira ficam retidas no filtro e o ar sai.

Evaporação: é usado para separação de misturas homogêneas constituída de um componente sólido e o outro líquido. A evaporação é usada para separar misturas, quando apenas a fase sólida é de interesse.
O sal de cozinha é extraído da água do mar por evaporação. A água do mar é represada em grandes tanques, de pequena profundidade, construídos na areia, chamados de salinas. Sob a ação do sol e dos ventos a água do mar represada nas salinas sofre evaporação e o sal de cozinha e outros componentes sólidos vão se depositando no fundo dos tanques.
O sal de cozinha é extraído da água do mar por evaporação. A água do mar é represada em grandes tanques, de pequena profundidade, construídos na areia, chamados de salinas. Sob a ação do sol e dos ventos a água do mar represada nas salinas sofre evaporação e o sal de cozinha e outros componentes sólidos vão se depositando no fundo dos tanques.
O sal grosso obtido nas salinas, além do uso doméstico, também é utilizado em países de inverno muito rigoroso, para derreter a neve, visto que o gelo cobre as ruas, estradas, pastagens. Isso ocorre porque ao dissolvermos uma substância em um líquido esta diminui o ponto de congelação do líquido.


Destilação simples: é usada para separar misturas homogêneas quando um dos componentes é sólido e o outro líquido. A destilação simples é utilizada quando há interesse nas duas fases. Este processo consiste em aquecer a mistura em uma aparelhagem apropriada, como a esquematizada abaixo, até que o líquido entre em ebulição. Como o vapor do líquido é menos denso, sairá pela parte superior do balão de destilação chegando ao condensador, que é refrigerado com água, entra em contato com as paredes frias, se condensa, voltando novamente ao estado líquido. Em seguida, é recolhido em um recipiente adequado, e o sólido permanece no balão de destilação.


Destilação Fracionada: é usada na separação de misturas homogêneas quando os componentes da mistura são líquidos. A destilação fracionada é baseada nos diferentes pontos de ebulição dos componentes da mistura. A técnica e a aparelhagem utilizada na destilação fracionada é a mesma utilizada na destilação simples, apenas deve ser colocado um termômetro no balão de destilação, para que se possa saber o término da destilação do líquido de menor ponto de ebulição. O término da destilação do líquido de menor ponto de ebulição, ocorrerá quando a temperatura voltar a se elevar rapidamente.



A destilação fracionada é utilizada na separação dos componentes do petróleo. O petróleo é uma substância oleosa, menos densa que a água, formado por uma mistura de substâncias. O petróleo bruto é extraído do subsolo da crosta terrestre e pode estar misturado com água salgada, areia e argila. Por decantação separa-se a água salgada, por filtração a areia e a argila. Após este tratamento, o petróleo, é submetido a um fracionamento para separação de seus componentes, por destilação fracionada. As principais frações obtidas na destilação do petróleo são: fração gasosa, na qual se encontra o gás de cozinha; fração da gasolina e da benzina; fração do óleo diesel e óleos lubrificantes, e resíduos como a vaselina, asfalto e pixe.



A destilação fracionada também é utilizada na separação dos componentes de uma mistura gasosa. Primeiro, a mistura gasosa deve ser liqüefeita através da diminuição da temperatura e aumento da pressão. Após a liquefação, submete-se a mistura a uma destilação fracionada: o gás de menor ponto de ebulição volta para o estado gasoso. Esse processo é utilizado para separação do oxigênio do ar atmosférico, que é constituído de aproximadamente 79% de nitrogênio e 20% de oxigênio e 1% de outros gases. No caso desta mistura o gás de menor ponto de ebulição é o nitrogênio.


Quadro resumo dos métodos de separação de misturas

Misturas Homogêneas

MÉTODO
PROCESSO
Destilação Simples (Sólido + Líquido)
Por aquecimento, só o líquido entra em ebulição, vaporiza-se e a seguir condensa-se, separando-se do sólido
Destilação Fracionada (Líquido + Líquido)
Por aquecimento, os líquidos vaporizam-se e a seguir condensam-se, à medida que vão sendo atingidos seus pontos de ebulição
Líquefação Fracionada (Gás + Gás)
Por resfriamento da mistura, os gases se liqüefazem separadamente, à medida que vão sendo atingidos os seus pontos de ebulição.
Aquecimento Simples (Gás + Líquido)
Por aquecimento abaixo do ponto de ebulição do líquido, ó gás dissolvido é expulso.

Misturas Heterogêneas
MÉTODO
PROCESSO
Catação (Sólido + Sólido)
Os fragmentos são catados com a mão ou pinça
Ventilação (Sólido + Sólido)
Separação do componente mais leva por corrente de ar.
Levigação (Sólido + Sólido)
Separação do componente mais leva por corrente de água.
Dissolução Fracionada (Sólido + Sólido)
Separação por meio de um líquido que dissolve apenas um componente.
Separação Magnética (Sólido + Sólido)
Apenas um componente é atraído pelo ímã.
Fusão Fracionada (Sólido + Sólido)
Separação por aquecimento da mistura até a fusão do componente de menor ponto de fusão.
Cristalização Fracionada (Sólido + Líquido)
Adiciona-se um líquido que dissolva todos os sólidos. Por evaporação da solução obtida, os componentes cristalizam-se separaddamente.
Peneiração ou Tamização (Sólido + Sólido)
Os componentes estão reduzidos a grãos de diferentes tamanhos.
Sedimentação
Separação de duas ou mais camadas devido a diferentes densidades.
Decantação (Sólido + Líquido)
Após a sedimentação a fase líquida é escoada.
Filtração (Sólido + Líquido)
Separa a fase líquida ou gasosa da sólida por meio de uma superfície porosa.
Centrifugação (Sólido + Líquido)
Decantação acelerada por uma centrífuga.